sábado, 11 de julho de 2009

3 - Media Digitais e Construção da Identidade Social - Reflexão e Intervenções

Reflexão

Nesta 3ªactividade, já depois de termos aprofundado os nossos conhecimentos relativamente aos processos de construção da identidade na actividade anterior, o objectivo agora foi o de identificar de que forma esse processo se efectua mediante esta nova realidade digital: de que forma os jovens sociabilizam através de Media Digitais e como é que será notório em termos de construção de identidade? Assim, e tendo como recursos disponíveis seis textos, onde esta temática foi abordada, foram descritos várias casos onde tecnologias como o telemóvel, ferramentas do Office, tais como o powerpoint, recurso à internet para construção de blogues ou sites motivados em disciplinas, entre outros, demonstraram que os jovens já não vivem sem tecnologia.

A escola pode desempenhar um papel fundamental uma vez que pode articular as várias valências que a escola poderá fornecer em função da realidade que vivemos. Nos casos relatados nos textos, os jovens, ao desenvolverem conteúdos em media digitais, estão também a construir a sua identidade, pois o facto de conseguirem aprender e desenvolver a sua aprendizagem nesses meios, fá-los sentir competentes, o que contribui para a auto-estima, tão importante na adolescência e na construção de identidade.



A construção a partir de novos media contribui para a construção de identidade através da reflexividade - de quem são, do que os outros pensam que são. Os jovens olham, assim, para si próprios, criticando e consumindo as suas próprias imagens, mas também incluem outros no ambiente que criaram – cultura colaborativa e participativa. É uma socialização-em-acção na medida em que há sempre possibilidade de se alterar, modificar, reorganizar a produção multimédia, mediante o feedback que se vai recebendo. E assim, também falamos em identidades-em-acção, na medida em que a produção cultural, com múltiplas facetas, onde se incorporam imagens novas e velhas (cultura convergente), se vai (re-)construindo.

Escolhi, para este item, três intervenções por forma a conseguir cobrir os aspectos mais relevantes dentre os 5 fóruns de discussão.

A minha escolha recaiu na reflexão do colega Rui Fernandes, não só pelo conteúdo bem organizado e conciso, mas também pela forma de descrever determinadas situações que, se não nos fazem rir, pelo menos fazem-nos sorrir. O Rui refere que se por um lado os jovens refugiam-se nas novas tecnologias, por outro dão-se a descobrir plenamente ao divulgarem aspectos íntimos, o que nos leva novamente à questão da segurança na Internet.

Relativamente às outras duas escolhas, a intervenção II, do colega Pedro Amaral deveu-se ao facto de resumir de forma clara e objectiva, a utilização dos novos meios digitais em meio escolar, de forma profícua e significativa e, contrariamente às habituais críticas, também colaborativa. Finalmente, a intervenção III, evidencia a utilização do telemóvel em contexto escolar de uma forma possível e positiva. Há, como já foi referido, que tentar rentabilizar as potencialidades dos nossos jovens, inovando nas estratégias, metodologias e formas de actuação.



Intervenção I
Viva

Quero começar por dizer que estou completamente de acordo com a Filomena e a Paula.
Depois dar os parabéns pelo excelente trabalho do grupo.

Sobre aquilo que li gostaria de realçar, logo no início, a ideia absolutamente fantástica mas deliciosamente perigosa do bébé-tecno com chip ou sem ele...

Efectivamente, a identidade social dos jovens que estamos a criar e que serão os futuros pais (veremos se conseguirão fazer os filhos tecno-virtualmente ou se há matérias em que nada se alterará...), pode levar-nos a pensar nesta possibilidade mais seriamente do que, inicialmente, julgaríamos ir fazer.

A identificação dos jovens com as tecnologias é de tal forma vincada que, em todos os sentidos comunicacionais, os jovens nem se apercebem como elas passaram a ser extensões deles próprios, como é referido no trabalho do grupo. É pertença, comunhão de saberes, não de sabores por enquanto, partilha, colaborativismo, colectivismo. Os pares acabam por se unir em torno da causa, uma causa própria, bem determinada, uma causa tecnológica.

Salienta-se o caso específico dos telemóveis, hoje em dia, um acessório como qualquer outro, importante, sem o qual quase se sentem desprotegidos, despidos de qualquer virtude ou conhecimento. Dão a vida pelo aparelho, se perdido recuperá-lo "ou morrer a tentar recuperá-lo" passa a ser um objectivo de vida.

É curiosa a contradição entre refugiarem-se claramente nas tecnologias, nomeadamente, na web, e darem a conhecer, por outro lado, o espaço que habitam, a sua intimidade, divulgando-o nas páginas pessoais, blogues, com imagens ou vídeo de webcam. Percebe-se uma certa ausência de definição, uma busca constante dos outros, embora uma busca pelo isolamento. Partem demasiado fechados em si próprios, sem partilha física e contacto directo, mas a verdade é que é um processo que se vive durante a construção da identidade e que não se mantém por toda a vida. Podemos chamá-la de vida de funil, invertido embora, mas assim é. Começa por muito recato, no seu próprio espaço, aquele que melhor dominam, gostam de o dar a conhecer sem contestação alheia, impossível de efectivar pela distância imposta pela tecnologia. Vão alargando ao longo da vida e a verdade é que, adolescência passada, verificamos que a abertura é cada vez maior e a necessidade de interacção directa, mais física, torna-se um desejo a realizar.

Até podemos saber como os jovens utilizam as tecnologias e verificar os produtos daí resultantes, mas fundamental mesmo será a reflexão "sobre os efeitos das tecnologias na construção de identidades". E questionar se é o que queremos para a sociedade ou se devemos intervir e utilizar o bom senso determinando os limites do razoável. É que se forem ultrapassados demorará muitas gerações a construir uma nova identidade social colectiva.

RF


Intervenção II



Este artigo, de forma coincidente ou não, termina na perfeição o meu percurso reflexivo sobre a influência dos meios digitais na identidade social dos adolescentes. Isto porque as ideias que resultam da análise da síntese realizada pelo grupo V vão de encontro aquilo que eu penso sobre o papel dos meios digitais no processo de aprendizagem e da construção da identidade dos adolescentes. Talvez por trabalhar diariamente com adolescentes dos 15 aos 18 anos e desenvolver inúmeros projectos que envolvem e exigem atitudes colaborativas de aprendizagem( pela especificidade das área técnico-artísticas que lecciono), considero que este artigo aborda questões fundamentais para todos aqueles que trabalham em educação.

Contrariamente à visão redutora, preconceituosa e pessimista que habitualmente adjectiva a massiva utilização dos novos meios digitais pelos adolescentes, este artigo apresenta-nos uma outra perspectiva, um outro olhar, seguramente mais optimista e pró-activo. Afastando-se dos efeitos nefastos ou perniciosos, esta perspectiva enfatiza dois aspectos que considero essenciais:

a) Os novos meios digitais podem e devem ser utilizados pelos agentes educativos e pela escola como ferramenta de aprendizagem significativa. Como instrumento mediador de reaproximação dos alunos ao contexto escolar, fazendo com que as suas vivências, as experiências pessoais, o seu saber, os seus ideais, no fundo, as suas identidades em construção sejam tidos em conta no processo ensino aprendizagem e o enriqueçam.

O discurso no ensino tem mudado nas últimas décadas. Hoje a questão que se coloca à escola é a de saber lidar com a enorme diversidade que a habita. Uma heterogeneidade que necessita de estratégias de ensino orientadas e centradas no aluno, que não permanece indiferente às diferenças que existem em cada um dos seus alunos. As potencialidades que os novos meios digitais apresentam para a prática de um ensino diferenciado e orientado para o aluno e para a expressão da sua identidade pode e deve ser aproveitado pela escola. Um ensino que com a ajuda dos novos meios consiga promover “ (…) o desenvolvimento do espírito democrático e pluralista, respeitador dos outros e das suas ideias, aberto ao diálogo e à livre troca de opiniões, formando cidadãos capazes de julgarem com espírito crítico e criativo o meio social em que se integram e de se empenharem na sua transformação progressiva. (Artigo II, alínea 5 LBSE)”.

b) Outro aspecto importante que o artigo aborda é a questão da colaboração. Uma das habituais criticas que se fazem aos meios digitais é que estes apelam e promovem o individualismo dos adolescentes, as atitudes egocêntricas e o alheamento face aos outros. Este artigo demonstra que a escola e os professores, através desses mesmos meios digitais têm a possibilidade de promover nos jovens atitudes que promovam o trabalho em equipa e a relação do indivíduo com a comunidade, com a cultura e a sociedade que habitam.

No fundo, e em jeito de síntese, considero que os professores, os pais, os adultos em geral, mais do que assumirem uma atitude negativa ou reprovadora face à influência dos media digital nos jovens, devem antes de mais assumir a sua função de educadores, promovendo perante estes práticas que lhes permitam ser melhores indivíduos, mais competentes profissionalmente e socialmente e sobretudo mais humanistas.

Pedro Coelho do Amaral



Intervenção III


Boa noite,

De facto, a facilidade de uso e a fácil obtenção de um telemóvel levou à massificação do mesmo. Para os adolescentes, o telemóvel, para além de ser um meio de comunicação enquanto ferramenta e canal para troca de informação, é também um instrumento de socialização. Assim, é impensável um jovem ter o telemóvel desligado (andam sempre com o carregador “em punho”), nem que seja por breves instantes. É muito importante estar sempre disponível (sentimento social de presença).

Com o evoluir das tecnologias, também o telemóvel apresenta novas funcionalidades, tais como ter a possibilidade de organizar um diário pessoal, quer através de texto, fotografias ou filmes.

Embora, neste estudo o baixo nível de literacia tecnológica evidencie uma limitação na utilização do telemóvel.

Tal como no texto 1, também este texto mostra que o telemóvel funciona como uma extensão dos próprios jovens, uma vez que os decoram (sobretudo as raparigas), atribuem nomes carinhosos, e não conseguem viver sem ele. Há como que uma personificação do telemóvel quer de si próprio quer dos amigos, no sentido de ser através do telemóvel que se passam momentos importantes da sua vida. É através do telemóvel que se constroem amizades, namoros, aspectos muito importantes para os jovens. Já presenciei jovens terminarem o namoro através de SMS, o que me deixou um pouco chocada pela frieza com que o fizeram. Pareceu-me que não tiveram/ têm a noção das reacções que causaram (o facto de não estarem presentes fisicamente, fá-los sentir-se protegidos, não se inibindo de escrever o que quer que seja).

Em aula é complicado gerir esta situação, uma vez que as turmas são grandes e, apesar de as regras serem claras quanto ao uso do telemóvel, nem sempre são respeitadas. Já estive numa escola que colocou relógios de parede em todas as salas de aula, para não dar aos alunos a desculpa de mexerem no telemóvel para verem as horas.

Posso dizer que resultou, até porque os alunos sabiam que eram penalizados se não cumprissem a regras. Neste momento, a regra é a não utilização do telemóvel em aula porque efectivamente dispersa a atenção ou empenho nas actividades. Haverá forma de conseguirmos integrar este media digital em aula? De momento não consigo conceber uma forma, a não ser utilizando as vertentes fotográfica e de filmagem. No futuro, quem sabe…

[] Margarida

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